Chute desatinado

por Laudelino Sardá


Santa Catarina – “Se eu fizer este gol agora, Santa Catarina vai bater o recorde de investimento em educação”, disse o governador Carlos Moisés em campo, na marca do pênalti e sem goleiro sob o travessão. Chutou a bola para fora e ainda exibiu a irreverência, que deixou atônitos usuários da internet, diante da ausência de uma explicação aplausível para um erro que ele não cometeria em um jogo oficial. Ou se negaria a bater o pênalti.
O que desejou Moisés concluir com essa imperfeição? Que outros governos não fizeram o que a sua gestão produziu? Então suas palavras foram equivocadas, porque o fato de não ter marcado o pênalti, sem goleiro, amarelou as tentativas de recorde na educação. A edição de vídeo poderia exibir um belo gol, principalmente se colocasse um parlamentar do MDB entre as traves.
Os comportamentos de políticos no Brasil desandaram no cenário de incertezas e de contradições, em que candidatos foram lançados mesmo sem ter perfis eleitorais, que exigem, sobretudo, coerência em relação ao que necessita a cidade, estado ou nação que governaram ou que venham a assumir o poder. Um exemplo de coerência foi o governador Ivo Silveira, em sua campanha ao governo do Estado, na segunda nos anos 60, prometeu um significativo aumento para os professores. E bastou sentar-se à mesa em palácio para, numa canetada, reajustar os vencimentos dos docentes em mais de 400%, sem precisar bater pênalti, mesmo produzindo um recorde histórico.
A velocidade que a tecnologia enseja à comunicação, estimulada pela ansiedade de se imaginar fatos para maquinar informação, exige conhecimento de causa, competência na aplicação do verbo e da imagem e saber mensurar, com precisão, os efeitos da estratégia, principalmente no campo político. Parece que a política virou jogo da sorte. Não faltou sorte a Carlos Moisés, mas sim a garantia de que a estratégia do gol não teria efeitos colaterais, ainda mais diante de uma plateia que lotaria muitos estádios de internautas incomuns.
Pelo visto, estas eleições serão marcadas pelos riscos de improvisações, da pressa e de subestimar a capacidade dos cidadãos de pensar nas bases proporcionadas pela facilidade de comunicação. Os governadores Irineu Bornhausen, Celso Ramos, Ivo Silveira, Colombo Machado Salles, Antônio Carlos Konder Reis e outros não tiveram a tecnológica da informação nos avanços de hoje, aliás, nem precisaram dessa arma para se pautar na coerência de suas propostas administrativas.
E tudo leva a crer que o eleitor vai precisar interpretar bem cada chute, porque o erro ou o acerto, com ou sem goleiro, vai exigir adivinhação. O risco, portanto, é de o eleitor ficar ainda mais cético, sem ler ou enxergar algo verossímil. O chute desatinado pode custar muito caro a políticos precipitados.

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