A COMCAP E O PROBLEMA DA ORGANIZAÇÃO ESTATAL
por Laudelino Sardá
FLORIANÓPOLIS – A decisão da prefeitura de Floripa, de procurar na iniciativa privada uma solução para a Comcap (Companhia de Melhoramento da Capital) precisa ser analisada, no mínimo, sob duas óticas. A primeira denuncia a incompetência da prefeitura de não ter modernizado a companhia no mínimo há duas décadas. Ora, empresa estatal não é privada, mas não tem privilégios da organização pública. E não pode ser partidária e nem sindicalista. Uma empresa privada tem regras que não combinam com as salvaguardas de uma organização pública, protegida desde os anos 70 contra a cobiça político-partidária.
A prefeitura precisa explicar por que não tentou inicialmente usar de todos os recursos, inclusive judiciais, para enquadrar a Comcap no cenário da empresa guiada por duas vertentes: a da modernização produtiva e a da democracia de gestão, que a desobrigaria de conviver sob as ordens de organizações sindicais.
E sob este argumento é oportuno salientar que o sindicato do século 21 não pode se limitar ao protecionismo de seus filiados. Bem o contrário, o sindicato precisa mostrar competência, inclusive na exigência de os filiados vencerem pela inteligência, contra a força das facilidades tecnológicas e do incompreensível cenário político-partidário, onde o pensamento e atitudes são egocêntricos e, sobretudo, divorciados da compreensão social e econômica.
A prefeitura, com o argumento de que a privatização vai baratear o custo da coleta do lixo, precisará demonstrar que o contribuinte irá gastar menos e dispor de acentuadas melhorias no serviço. Não basta querer defender teorias contra greve. A propósito, a greve é um direito que tem ajudado a minimizar as diferenças sociais brasileiras. Por outro lado, as organizações sindicais sujeitam-se ao desconforto do desgaste político-corporativista, justamente porque ainda tem o protecionismo como única arma de defesa. O sindicato precisa cultiva um papel importante na valorização dos filiados sob a ótica da relação de confiança e qualidade de trabalho. O meio século de sobrevivência da Comcap não lhe dá o direito de exigir compreensão e valorização, apenas. E não deve confiar na (in) certeza de que o povo está satisfeito com seu desempenho. A Comcap precisa dar outras respostas, além da greve.
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