PARTIDOS SEM IDENTIDADE

por Laudelino Sardá


BRASIL – A quase totalidade dos políticos brasileiros age de forma personalista pela ausência de identidade partidária. As agremiações políticas não agregam votos como deveriam, motivo pelo qual o político bom de urna, independente da sua posição ideológica e conduta moral, é sempre bem-vindo a uma legenda. Em outros países democráticos, o político alimenta uma forte reciprocidade com os ideais do partido, enquanto aqui a sigla serve mais de trampolim para negociações, principalmente com quem está no comando do poder público. Se partido produzisse efeito na urna, com certeza Bolsonaro não estaria até hoje sem base. Ele se acha bem mais importante que um partido. E não é porque está na presidência da República, mas pela realidade de que partido político não passa de um aglomerado de interesses pessoais e divergentes.
A situação do Brasil reflete-se bem em Santa Catarina. Não se vê ou ouve proposta de partido para apostar em solução social e econômica para a nação. Só repercutem os conchavos e meia dúzia de legendas corre atrás de Bolsonaro para ganhar o poder. Em nosso Estado o mosaico político não se difere. O MDB, o mais tradicional do país, está na cola do governador Carlos Moisés para uma composição eleitoral. E até agora tem sido incapaz formalizar aos catarinenses um projeto para fortalecer a nossa economia – que, felizmente, não precisa de políticos – e equacionar focos de miséria social. O MDB, que ajudou a reconstruir a democracia no começo dos anos 80, vive a reboque de inquilinos do poder, e tem sido incapaz de fortalecer a sua imagem com ideias, projetos e desafios para um estado que tem orgulho da performance social da sua população. No mesmo ritmo estão outros partidos, como o PSDB, que já presidiu o país, sem, contudo, influir em mudanças.
Como será possível mudar o cenário político brasileiro se os partidos são as cavernas onde se processam negociatas em nome do poder e da reeleição? O Tribunal Superior Eleitoral preocupa-se em analisar os estatutos dos partidos e denúncias contra políticos, quando deveria ter a perspicácia de analisar o cenário, fugir à burocracia do apenas ver, escutar e marcar presença, para ajudar a nação a reoxigenar a sua democracia. Claro que depende do aval dos parlamentares, mas é essencial que os cofres públicos parem de ser a cobiça de políticos, que vivem mais de votos de cabresto do que de propostas sérias e confiáveis à cidade, ao estado e ao país.
Está nas mãos dos partidos a reforma política que se espera. Para isso, é necessário que o MDB, o mais tradicional, saia na frente com proposta voltada à sociedade. Da mesma forma, o TSE precisa passar por uma forte reciclagem, para não se deixar parecer uma legenda pública.

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