JORNALISMO APRESSADO

por Laudelino Sardá


BRASIL – O jornalismo, de modo geral, anda tão acelerado que a precipitação de informação estimula qualquer usuário da internet a também ser atrevido. Só não está evidente se foi o jornalista que estimulou o internauta em suas lucubrações ou se a instantaneidade desvairou o profissional da comunicação, motivando-o a acreditar que o furo de reportagem é ainda a sua salvação.
Nessa velocidade esquizofrênica, o jornalista deveria ser o medianeiro, sinalizando razões para se enxergar a veracidade do fato ou da opinião.
Mas, afinal, o que é um furo de reportagem? Resume-se à teoria de que o furo é uma ação exclusiva que glorifica o seu autor. Por exemplo: flagrantes que privilegiam fotógrafo e jornalista no momento da ação. Já senti o desespero de, ao retornar de uma viagem a Blumenau, com o fotógrafo Lourival Bento, depararmo-nos com um corpo esticado ao lado de um automóvel Mercedes à margem da BR-101. E se tratava de um empresário bem-sucedido. Foi furo? Foi! E hoje? Se na época – anos 80 – houvesse internet e celular, as pessoas, que se aglomeraram no local do acidente, teriam nulificado o furo de reportagem, postando fotos do acidente antes de nós, como ocorre hoje em dia.
Nós jornalistas vivemos ainda momento de incertezas e alucinação. E o duelo está entre a falta de estratégia empresarial de comunicação para uma nova e desafiante realidade, e a visão e pensamento embaraçados de jornalistas, que se dificultam em compreender a rápida passagem de veículos de comunicação para um cenário surpreendente, em que o leitor, ouvinte e telespectador tornaram-se também emissores, fugindo aos limites da recepção da informação. A maioria das escolas de comunicação insiste em teorias abstratas, negando-se a pensar o rádio, TV e jornal como processo de convergência e interatividade da comunicação do século 21.
Podemos dizer que até meados dos anos 80, o jornalismo vivia estafante, numa luta incessante contra o relógio. O processo de produção do radiojornalismo era à base de escuta, principalmente de emissoras de alcance nacional; o telejornalismo sofria limitações pela ausência de estruturas móveis, enquanto o jornal impresso compunha-se de várias e demoradas etapas de produção: os textos ainda elaborados em máquina manual de escrever, para depois serem revisados, editados e compostos em sistema offset; a diagramação e paginação produzidas feitas em folhas papéis. As reportagens dependiam do deslocamento do repórter ou da precariedade da telefonia.
Contudo, os veículos de comunicação influenciavam na formação de opiniões públicas, justamente pelo compromisso de jornalistas – e não era todos – de se pautarem na veracidade dos fatos. Em 19 de janeiro, Elis Regina morreu aos 37 anos. E O ESTADO deu em chamada de capa: “Overdose mata Elis”. Dezenas de leitores ligaram protestando, arguindo que a grande cantora deveria ser melhor referenciada. Teria sido sensacionalismo do editor? Não! Foi uma manchete pautada na realidade. Hoje, o jornalismo é conduzido, mais ainda, pela emoção pública. Por exemplo, morreu em acidente aéreo a cantora Marília Mendonça, que alguns jornalistas desconheciam. Mas as manifestações na internet foram tão expressivas que a TV, rádio e jornais correram a reboque.
O jornalismo precisa se reencontrar com a sua magnitude. Precisa fugir à obviedade de um mundo tomado pela superficialidade. É necessário que o jornalismo contribua à melhoria de qualidade da informação na internet, para que os usuários entendam que a palavra precisa refletir o pensamento, opinião e que não seja aleatoriamente jogada no escândalo de interpretações. A reconstrução do jornalismo depende das escolas e das estratégias que empresas de comunicação adotam visando apenas ao lucro. Não! É preciso investir na qualidade e mudanças. E quem sabe a empresa consciente comece a qualificar e enriquecer o processo de transformação.

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