MORRE UM GRANDE JORNALISTA
por Laudelino Sardá
SANTA CATARINA – A tristeza neutraliza a nossa dor ao saber da morte do grande jornalista Sérgio Lopes. Figura ímpar, ética e de competência extrema. Lembro-me, no final dos anos 70, que a Assembleia Legislativa havia promovido um “trem da alegria”, com nomeações de parentes, amigos, cabos eleitorais, que ocuparam mais de 100 cargos. Sérgio Lopes, que também trabalhava na AL, chegou à redação de O ESTADO com a bomba. Um irônico jornalista perguntou-lhe: não tens medo de ser demitido da Assembleia? E Sérgio não hesitou em responder: perco o emprego mas não me afasto da dignidade.
Sérgio Lopes, além de um exímio jornalista, texto primoroso, foi um profissional humilde. Certa vez levei-o à minha sala de aula e ele foi aplaudido com vontade pelos alunos, que receberam uma aula exemplar de jornalismo.
Não se trata do desaparecimento de um jornalista, mas, sobretudo, de um amigo que aprendemos a gostar muito e a respeitar. Grande perda.
O jornalismo até meados da década de 90 era o retrato de Sérgio Lopes. O compromisso com a verdade vencia quaisquer dificuldades e suprimia as barreiras, até mesmo aquelas de estampa política, que tentavam bloquear a veracidade dos fatos. As eleições de 1982, as primeiras depois do bloqueio da ditadura – o último governador eleito foi Ivo Silveira em 1965 – caracterizaram-se por suspeitas eleitorais, com denúncias de violação de urnas. Contudo nada comprovado perante a justiça eleitoral. Na época da apuração, o jornal O ESTADO estampou em manchete a denúncia de corrupção eleitoral, e então o editor de política Sérgio Lopes reiterou o compromisso do jornalismo com a apuração dos fatos.
O jornalismo de nossos tempos produzia frenesi, justamente pela disposição e perseverança dos que perseguiam a verdade como caminhos naturais da reportagem e da opinião. O jornal O ESTADO, mesmo pertencendo a um líder da oligarquia pessedista – dr. Aderbal Ramos da Silva – nunca deixou de cultivar e priorizar a veracidade dos fatos, motivo pelo qual justifica-se a sua notória posição, na época, de um dos melhores jornais do Sul do Brasil.
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