JORNALISMO PERDE O FÔLEGO

por Laudelino Sardá


INTERNACIONAL – Quase no final da guerra da pandemia, em que os tiros de informações acertaram pouco os alvos, a imprensa surpreende-se agora com um novo conflito, a invasão russa na Ucrânia. E, de repente, a conflagração no sudeste europeu agiganta-se em todas as redações, como se a guerra já tivesse alcançando todo o planeta. E isso é explicado pela falta de fôlego e de inovação do jornalismo nessa peleja produzida pela tecnologia. O avanço tecnológico foi tão admirado e surpreendente que o jornalista está hoje perdido, competindo com o usuário da internet.
E depois da guerra? Bem, o jornalismo primeiro terá que vencer a sua guerra, a de principalmente adequar seus princípios e missões à realidade sem precisar se digladiar com os internautas. Bem o contrário, precisa, sobretudo, tornar-se um importante aliado dos usuários da internet, proporcionando-lhes o que já vinha fazendo desde o século 19: esclarecendo e explicando os fatos do dia a dia.
Os conflitos naturais da internet, que tornou o cidadão emissor, quando antes era somente um receptor de notícias, precisam ser compreendidos como um processo natural de transformação. A tecnologia está abreviando todas as respostas de que necessitamos, e se continuarmos a apostar na instantaneidade na busca de informações e credibilidade, com certeza vamos vivenciar, por mais alguns e talvez muitos anos, um processo dominado pela internet, nas mãos de tecnólogos, quando os jornalistas deveriam exercer seu importante papel de informar e esclarecer.
O jornalismo nunca precisou de conflitos para sobreviver. Claro que nos anos 70 já havia jornais explorando a violência urbana como matéria-prima, mas tanto os jornais como o rádio não perderam o compromisso com a informação consistente. Por mais que uma informação tomasse conta da sociedade, o jornalismo buscava sempre um fato novo, perseverava na conquista da explicação exequível. Está na hora, portanto, de o jornalismo não precisar esperar por novos conflitos. Viver o dia a dia da sociedade, explicando suas razões e problemas, é uma forma de o jornalismo se reencontrar na sua plenitude, resgatando seu valioso papel exercido no século 20.

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