POLÍTICOS FORA DE ÉPOCA

por Laudelino Sardá


Brasil – A caminho da terceira década do século 21, em que só falta uma linha de comunicação com possíveis habitantes da lua, nossos políticos continuam mergulhados em ladainhas, travados no corporativismo e nos jogos de interesses pessoais ou de grupos, alimentados por recursos públicos.
Quem se dispuser a analisar o processo político-partidário do século 20 e dos últimos 22 anos em Santa Catarina, identificará, sem dificuldade, os mesmos hábitos e vícios, atrofiados em esquemas eleitorais. E – quem sabe – concluirá que duas causas se destacam nesse hemisfério de atrofiamento político e social. A primeira causa é o alto nível de pobreza no Brasil, que estimula famílias marginalizadas a minimizar a fome em troca de dinheiro pelo voto. A segunda causa é a ausência de compreensão popular do conceito democracia. Infelizmente, confunde-se democracia com um cenário de governos e partidos. A democracia precisa estar enraizada na visão e sentimento de cada cidadão, mas, infelizmente, somos ainda uma Nação que não ensina, a começar pela ineficiência de nossas escolas de 1º e 2º graus, que ainda se limitam a ensinar matemática, história, geografia e gramática. E quando ensinam aspectos fundamentais da sociedade prevalecem, muitas vezes, o pensamento do docente – de todas as tendências ideológicas. E isso ocorre justamente pela ausência de uma política educacional corajosa e atualizada.
Santa Catarina não sofreu tanto as consequências desse atrofiamento político-partidário em razão de o seu povoamento ter se desenvolvido pela tenacidade de seus colonizadores, que concentraram suas energias e crenças na produção e na construção de suas famílias e de suas cidades. A desconcentração social e econômica do Estado é a grande herança dos colonizadores. E não é sem motivo que as microrregiões até hoje pouco se importam com a capital, excetos os político-partidários que navegam com suas estratégias nos estuários dos palácios.
Certa vez bateu-me a curiosidade de saber se na eleição do chanceler federal da República da Alemanha predominavam os jogos dos partidos. E um parlamentar foi rápido: “não, porque se eu quero me reeleger tenho de acompanhar os interesses da sociedade e o que o povo está exigindo”. A diferença é que no Brasil as estratégias são grupais ou individuais, porque os parlamentares – federais, estaduais e municipais – dispõem de estruturas de assessorias e de recursos públicos que lhes dão suporte para o clientelismo. E a concentração de recursos nas mãos dos palácios de Brasília e dos governos estaduais em menor escala obrigam prefeitos a recorrerem à intermediação partidária no jogo da caixa preta.
Haveria no Brasil duas alternativas para a reciclagem político-partidária. A primeira seria uma profunda reforma política, em que a preservação moral das estruturas públicas, em nome da aplicação decente dos recursos dos impostos, teria como sustentação a aplicação de leis severas, enquanto a segunda alternativa seria o treinamento dos parlamentares, na tentativa de inseri-los no século 21. Parodiando Tomás Morus, em seu livro Utopia, é necessário reduzir o poder dos governantes, incluindo os membros dos parlamentos, vigiando o que eles gastam e com que dinheiro. Quem sabe, assim, eles alcancem o trem de 2022.

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