Entrevista | Marlene Fengler
por Richard Ritter – @richardritteroficial
Hoje nossa entrevistada nas eleições 2022 é candidata a deputada federal, Marlene Fengler, natural do município de Itapiranga, extremo oeste catarinense, é casada com o Felipe e mãe do Antônio. Entusiasta da educação, formou-se em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e desde então mora em Florianópolis.
Foi a primeira mulher chefe do gabinete da presidência na história da Assembleia Legislativa do Estado. Coordenou diversos projetos, tais como o da Consolidação das Leis, criação do Certificado de Responsabilidade Fiscal, projeto “Adoção Laços de Amor” – o qual foi reconhecido nacionalmente – além de estar à frente das economias e devoluções da Assembleia.
Em 2017 assumiu a coordenação da Escola do Legislativo Lício Mauro da Silveira, o projeto abre as portas da Assembleia Legislativa para universitários de várias cidades de Santa Catarina, atraindo jovens de diferentes culturas e para que vivenciem e entendam de fato como funciona o legislativo e a política.
Richard Ritter: Deputada Marlene, fale um pouco sobre suas origens e sua trajetória na política?
Marlene Fengler: Nasci na Linha Ipê-Popi, em Itapiranga. Sou filha de agricultores, casada e mãe de um menino de 14 anos. Quando terminei o ensino fundamental, fui trabalhar como empregada em casa de família para cursar o segundo grau. Aos 17 anos, me mudei para Florianópolis para fazer faculdade. Conciliei grande parte da graduação em Letras na UFSC com o emprego de bancária e a venda de docinhos para complementar a renda. Até que uma amiga me indicou para a vaga de secretária em uma agência de propaganda. Em 1994, meu chefe nessa agência se elegeu deputado federal e me convidou para trabalhar com ele em Brasília, onde fiquei por 12 anos como assessora parlamentar. Durante esse período, meu principal trabalho era ajudar as prefeituras na elaboração de projetos e na busca de recursos federais. Quando retornei a Florianópolis, fui convidada para trabalhar na Assembleia Legislativa, onde fui a primeira mulher – e até hoje a única – chefe de gabinete da Presidência. Em 2017 coordenei a Escola do Legislativo da Alesc e tive oportunidade de participar de muitos eventos para estimular a participação das mulheres na política. E sempre defendi que a participação feminina deveria espelhar a realidade, já que somos mais da metade da população e do eleitorado e não temos essa representatividade nos espaços de poder. Em 2018, meu partido me convidou para concorrer a uma vaga na Alesc. Encarei o desafio e fui eleita com 41.684 votos. Agora, estou dando um passo adiante e buscando uma vaga na Câmara Federal. Mas não estou sozinha, faço parte de um time que é o melhor para Santa Catarina. Temos o Gean Loureiro para o governo, com o Eron Giordani de vice. Temos o ex-governador Raimundo Colombo para o Senado com toda a sua experiência. Tenho a parceria do Zé Caramori, que busca uma vaga na Assembleia Legislativa. E esse time todo liderado pelo João Rodrigues, prefeito de Chapecó, um líder incansável do povo e que sempre defende a importância de a região ter representação política. Eu acredito que um time como esse, qualificado e que já mostrou que sabe trabalhar, tem competência para ajudar ainda mais a nossa região e o nosso estado. Precisamos de todos para em conjunto fazer o melhor por Santa Catarina.
Ritter: Nesses quatro anos como deputada estadual, quais realizações a senhora considera mais relevantes?
Marlene: Considero um grande legado a criação da Bancada do Oeste. Logo que assumi em 2019, fiz um requerimento e consegui o apoio de mais 14 parlamentares de diferentes partidos e ideologias, mas todos com vontade de ajudar o Grande Oeste. A criação da Bancada do Oeste confirmou aquilo que sempre acreditei: quando a gente se une em prol de um objetivo comum fica mais fácil resolver os problemas e construir soluções. Como Bancada do Oeste conseguimos aprovar no orçamento estadual uma emenda coletiva de 220 milhões de reais para melhorias na SC-283, mais 100 milhões para a BR-163, 24 milhões para a Rodovia da Fronteira e várias outras rodovias. Também graças à atuação da Bancada do Oeste conseguimos que o governo destinasse 350 milhões de reais no orçamento estadual, em três anos, para ações de enfrentamento à seca, como a construção de cisternas e poços artesianos e proteção de nascentes. Eu também sou presidente da Escola do Legislativo, e nesse período, ampliamos a oferta de cursos de qualificação online e presenciais para servidores, agentes públicos e políticos e para a sociedade em geral. Nesses quatro anos, atendemos com cursos de formação técnica e política, mais de 100 mil pessoas em todo o estado. Como integrante da Bancada Feminina considero as instalações do Observatório da Violência contra a Mulher e da Procuradoria Especial da Mulher – da qual sou procuradora adjunta – duas grandes conquistas, por se tratar de ferramentas importantes de proteção e apoio às mulheres vítimas de violência. Eu também faço parte de seis comissões permanentes da Alesc e presido a Comissão em Defesa dos Direitos em Defesa da Criança e Adolescente. E por essa Comissão, em parceria com várias instituições, fizemos uma análise sobre evasão escolar durante a pandemia, identificando a evasão de quase 14 mil alunos. Com base nesse levantamento, o Ministério Público e secretarias de educação puderam fazer a busca ativa e o resgate desses estudantes. Além dessas realizações e outras que não mencionei, também sou autora de nove leis em defesa das mulheres, das pessoas com deficiência, das crianças e adolescentes e do setor produtivo e apresentei vários projetos que continuam sendo analisados na Alesc.
Ritter: A senhora foi bem votada em 2018 na sua primeira eleição, ficando na 12ª posição. Porque a senhora decidiu concorrer a uma vaga na Câmara Federal?
Marlene: Muitas pessoas me disseram para tentar a reeleição, porque seria mais fácil. Mas eu penso que é preciso abrir espaços para novas lideranças. Além disso, acredito que com minha experiência de ter morado em Brasília e trabalhado na Câmara e no Senado, poderei fazer ainda mais pela nossa região e por Santa Catarina. As principais obras de infraestrutura dependem de recursos federais e se Santa Catarina não tiver representatividade forte e com experiência em Brasília, os recursos não virão para nós, irão para os estados que “brigam” mais, que fazem mais pressão junto ao governo federal. Tem estudos mostrando que de cada 100 reais que Santa Catarina manda para a União em tributos, apenas 20 reais retornam, porque há um entendimento que somos um estado rico e não precisamos, mas isso é um equívoco. Essa relação precisa ser equilibrada para que o estado receba uma contrapartida justa pelo tanto que contribui. E com mais investimentos em obras importantes, como a duplicação das BRs 282 e 470, a conclusão da 163, a construção da ferrovia do frango, o estado poderá crescer ainda mais, gerando novas oportunidades de emprego e renda para a população. O meu trabalho de deputada estadual me credencia a tentar uma vaga na Câmara Federal. Eu escolhi a política por acreditar que é o melhor caminho para se construir as mudanças que a gente defende e acredita. É através da política que conseguimos transformar a sociedade.
Sei que posso ajudar nosso estado com minha experiência, principalmente no trabalho com os municípios. No período em que atuei em Brasília, me especializei em ajudar as prefeituras na elaboração de projetos de obras que dependiam de recursos do governo federal. E isso me definiu como parlamentar municipalista, porque o investimento que se faz no município muda a vida das pessoas para melhor. As pessoas vivem, trabalham e dependem de serviços básicos nos municípios, que são os entes federativos que recebem a menor parte do bolo tributário. Essa é uma questão que precisa ser revista e em Brasília quero defender uma maior justiça tributária, sem aumento de impostos, porque já pagamos demais.
Ritter: E como está a sua campanha nessa caminhada por uma vaga em Brasília?
Marlene: Não tem fórmula mágica a não ser ir ao encontro das pessoas e falar da minha trajetória, do meu trabalho e das causas que eu defendo. Eu tenho visitado muitos municípios, tenho participado de dezenas de encontros para conversar com as pessoas e, principalmente, ouvir as pessoas, conhecer suas demandas e saber o que elas esperam de mim. Eu trabalho na política por acreditar que é o caminho possível para transformar em realidade as necessidades dos municípios e das pessoas. Em quatro anos como deputada estadual eu fiz roteiros pelo Oeste no mínimo uma vez por mês. Visitei todos os municípios do Grande Oeste e em alguns fui várias vezes. Participei de encontros com lideranças políticas, de festas comunitárias, de rodas de conversa com mulheres, ouvi as queixas, os pedidos e dentro do possível trabalhei muito para atender a todos. Para todo o Oeste conseguir destinar mais de 60 milhões de reais em emendas e indicações de investimentos do estado, nas áreas de infraestrutura, saúde, educação, segurança e outras. Eu penso que a melhor estratégia para obter a aprovação e a confiança das pessoas é trabalhar muito para trazer mais investimentos e recursos estaduais e federais para o desenvolvimento social e econômico de Chapecó e para a nossa região.
Ritter: E quais são as principais propostas que a senhora quer defender em Brasília?
Marlene: O papel de quem representa os catarinenses em Brasília é trabalhar para que nosso Estado seja mais valorizado e que tenha retorno da contribuição que dá ao nosso país. Como eu havia dito, parlamentares de outros estados acham que Santa Catarina é um estado rico, que não precisa de recursos da União. Mas essa é uma visão distorcida e injusta com o povo catarinense. Santa Catarina é um estado é pujante economicamente, geramos muita riqueza, mas essa riqueza nem sempre volta para nós e acaba sendo direcionada para outros estados. Mudar isso não é só uma questão de boa vontade do governo federal, mas de trabalho conjunto da bancada federal catarinense em Brasília. E essa é uma causa que quero defender. Da mesma forma que criei a Bancada do Oeste, quero estimular uma forte união da Bancada Federal na defesa dos interesses de Santa Catarina, deixar de lado as diferenças ideológicas e trabalhar para resolver os problemas. A FIESC apontou a falta de obras estruturantes, como a duplicação das rodovias 282, 470 e 163, a construção das ferrovias litorânea e do frango – ligando o Oeste aos portos – além da construção da ponte internacional sobre o Rio Uruguai como fatores que atrapalham o desenvolvimento do estado. São obras necessárias para continuarmos crescendo e gerando empregos e renda. Mas além da infraestrutura, e de uma maior autonomia aos municípios, quero defender em Brasília o cooperativismo e o agronegócio, que são pilares da nossa economia. O agro, por exemplo, representa 31% do PIB, 70% das exportações e garante o sustento de 500 mil pessoas. Outras causas que defendi durante meu mandato como deputada estadual e pelas quais quero trabalhar ainda mais são as ações pela inclusão e em defesa dos direitos das pessoas com deficiência, das mulheres, das crianças e adolescentes e dos idosos, que em 2050 serão mais de 30% da população do Brasil. Eu tenho consciência que os desafios são muitos, mas isso só me dá ainda mais vontade de ir lá para Brasília e brigar, no bom sentido, pelo nosso Estado e pela nosso povo.