Basta ter vontade para mudar…

por Laudelino Sardá


Santa Catarina – Há muito tempo que os catarinenses não sentem uma vontade explicita de mudar. E não se caracteriza aqui nenhum desejo de expressar apoio e nem reconhecimento ao perfil do atual governo, não! Mas é oportuno lembrar que após mais de seis décadas Santa Catarina toma atitudes visando a fortalecer o seu modelo de desenvolvimento econômico-social. Depois do Governo de Ivo Silveira, que investiu em Educação dando mais de 300% de aumento salarial aos professores, sentimos nesta 32ª semana de 2023, outro grande investimento, o de ampliar substancialmente a capacidade das universidades fundacionais de receber estudantes carentes de recursos.
E o que isso pode significar?
Estamos tão desacostumados a raciocinar em nível de infraestrutura do desenvolvimento que surgem questionamentos viciados, como, por exemplo: se o Estado não tem dinheiro para investir, como pode dar acesso gratuito ao ensino superior? Ora, uma indagação como essa ignora literalmente a importância da educação ao crescimento e fortalecimento da sociedade. Há, infelizmente, a visão equivocada de que o Brasil precisa apenas criar empregos. Ora, as alternativas de crescimento social encontradas pelos países desenvolvidos foram justamente a de proporcionar à população a igualdade no direito e deveres, eliminando-se o modelo que privilegiava setores, mantendo as divisões de classes como ocorreram até o começo do século 20.
Infelizmente ainda se pensa no Brasil que cabe ao município responder pela educação infantil e ao Estado pela educação de 1º e 2º graus. O ensino superior é responsabilidade do MEC, mas não há um esforço coletivo para se pensar no fortalecimento da sociedade, até porque o acesso às universidades públicas – que são as melhores – continua privilegiando a classe média alta. Calcula-se que apenas 8% da pobreza consegue ingressar no ensino superior.
Na década de 60 do século 20, Santa Catarina deu um exemplo de mudança significativa ao implementar o modelo de ensino superior fundacional. As comunidades criaram suas fundações hoje integradas à Acafe. E justamente quando se pensa em fortalecer esse modelo para se ampliar o acesso universitário aos estudantes carentes, surgem os protestos em defesa de investimentos na produtividade, ou seja, na iniciativa privada. Ora, o próprio modelo mundial de desenvolvimento econômico, que contemplou países que continuam investindo em educação, como a Alemanha, Inglaterra, Canadá, Suécia e tantos outros, tem como base a educação, que, sem dúvida, é o principal ponto de equilíbrio social.
O projeto, que já mereceu a aprovação da Assembleia Legislativa, carece de outras sinalizações. Não basta ampliar o acesso gratuito, mas, sobretudo, levar as fundações a regiões distantes e carentes. Nosso sistema agropecuário está entre os modelos mais avançados do país, mas é preciso que as fundações estejam mais presentes no meio rural com ensino, pesquisa e extensão. Outra forma de o governo avançar com seus desafios é inserir as regiões pobres, inclusive as favelas, com educação forte em todos níveis. E se esse modelo der certo, o Brasil estará avançando substancialmente em seu desenvolvimento social, com base em uma experiência catarinense.
É fundamental, contudo, que políticos e empresários abracem o projeto do governo, de ampliar o acesso ao ensino superior, como um avanço do modelo de desenvolvimento econômico-social que ainda destaca Santa Catarina como uma inigualável referência de crescimento sustentável, que, sobretudo, não compreende apenas o desenvolvimento econômico, mas, principalmente, a saúde social. O crescimento econômico alcança resultados quando os avanços sociais forem significativos.

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